segunda-feira, 22 de junho de 2009

ANTI-

segunda-feira, 22 de junho de 2009
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Isso não é uma crítica de teatro.
Não pretende ser.
Mas não resisto a pequenos comentários.

Ontem fui com meus amigos assistir a peça "ANTI-DINHEIRO GRÁTIS" do Michel Melamed, no SESC Ginástico.

Indiferença é uma palavra que não define a reação de quem a assistiu.
Por mais ainda em processo de digestão que a pessoa esteja, indiferente ao espetáculo ela não está.

Quem foi àquele teatro esperando ver "DINHEIRO GRÁTIS" se ferrou.
Mas se ferrou muito bonito.
Como diria Melamed, tomou no cu.

O "ANTI" era a pista que quase ninguém percebeu.

Esse prefixo, anti, permeou a peça como um todo.

(não tô ligada nas novas regras da ortografia)

O anti-espetáculo, o anti-autor, o anti-espectador, o "anti-espectautor"...
O que mais chocou a platéia foi o anti-clímax.

Melamed fez um meneio com a cabeça e se foi, passada uma hora de peça, de uma hora e meia informadas quando da compra do ingresso.

Bela forma de tacar fogo no dinheiro de alguns?
Talvez.

Já que a censura invísivel - mas bem tangível - que temos por aí tratou de tacar fogo no espetáculo, que tal tentar tudo isso de uma forma alternativa?

Quase metade da platéia, ou mais, despendeu essa meia-hora restante sentada nos bancos do Teatro SESC, perplexa. Esperando que ele voltasse. Que fosse só uma pegadinha (rá). Esperavam que ele voltasse, jogasse dinheiro pro alto, fizesse palhaçada, fizesse rir, tacasse fogo na cartola e arrancasse meia-hora de palmas daquela deslocada platéia.

Deslocar: foi isso que ele conseguiu.

O banco do teatro ficou desconfortável. Estar dentro de você mesmo se torna desconfortável.

Muita gente que estava ali não pegou o que Melamed fez.
A peça não era engraçada, não totalmente.

Não é pra rir da ditadura.
Não é pra rir do tráfico de drogas.
Não é pra rir do ator.
Não é pra rir da ganância.
Não é pra achar que deve ficar rindo toda hora, por qualquer coisa.

É pra pensar.
É pra acordar hoje e pensar.
É pra acordar amanhã e depois e pensar.
É pra colocar a mão no bolso, pegar seu dinheiro e pensar.

Porque o público em geral não pensa.
Quem estava ali de primeira viagem não embarcou.
Quem é teatro-adicto não viu mais do mesmo e se frustrou.
Quem tava de fora viu melhor.

Agora o que existe é um mar de especulações.
Porque ele agiu assim, porque ele fez assado... Porque ele não fez.
E não tô a fim de ficar aqui especulando, especulando.
Tô a fim de jogar pro alto.

Um tiro no pé?
Pode ser.
Proposital?
Quase certeza.

Se em "Dinheiro Grátis" a 4ª parede caiu na cabeça de Melamed, em "Anti-Dinheiro Grátis" esse muro cai em cima do público.

Bem em cima do público.

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2 luz(es) no fim do túnel:

Sayd Mansur disse...

Putz! muito bom!
Ainda bem q vc me alertou.. gosto de experiencias assim! mas sera q pago pra ver?!
acho o melamed um viadinho afetado mas q propõe coisas muito boas nesse momento... e pelo visto so ele.
Precisaria ver e sentir esse anti-climx essa peça anti-autor.. aiaai pq ainda nao superamos esses paradigmas dos anos 60! Talvez pq ainda nao tenha chegado a hora mesmo! Todo mundo leu ou sabe em teoria, mas ter a oportunidade de sentir e outra... e estamos todos tao despreparados q... nos sentimos lesados!

Insone disse...

Só não sei quando tem de novo.
Nem sei se essa peça será montada novamente.
Semana que vem é só "Homemúsica".
Ouvi dizer que "Regurgitofagia" repete em julho.
Acho difícil vermos essa novamente!